Apropriação digital2025
Nestas próximas imagens, trabalho a partir da apropriação: recorto fotografias, insiro meu corpo em contextos museológicos e pinto digitalmente sobre elas. O gesto é de ocupação — uma entrada forçada e consciente nos espaços onde, historicamente, as mulheres foram reduzidas a objeto de contemplação, nunca sujeito da obra.
Ao me colocar diante de pinturas religiosas ou clássicas, não busco harmonia, mas atrito. O nu feminino, antes moldado por olhares externos, retorna como corpo ativo, que se impõe e se sobrepõe às camadas da tradição. A intervenção digital não oculta a artificialidade do gesto: ao contrário, a afirma como estratégia de reescrita simbólica.
Esse trabalho é, ao mesmo tempo, confronto e celebração: confronto com o cânone patriarcal e celebração da possibilidade de reinscrever minha própria imagem na história da arte.

Aparicoes,
Colagem e pintura digital, 2018
1034 × 1417 px

Reapropriação e pintura

A partir de uma fotografia digitalmente manipulada, retorno ao gesto da pintura. Repito, recorto e reinscrevo o ícone, transformando o que antes era apropriação digital em uma nova tela.
Essa operação tensiona : não se trata de reproduzir um modelo sagrado, mas de subvertê-lo. Ao inserir meu corpo diante da Virgem e depois reconstituir essa cena em óleo, crio um deslocamento entre devoção e profanação, culto e corpo.
A imagem final não é cópia nem paródia — é ressurgimento. Um ícone fragmentado que se abre a outros sentidos, onde a nudez, a cor e o gesto  inscrevem novas camadas de significação.