Quero te ver sangrar 2024
Na performance, escrevo sobre a tela uma carta — um texto cruel, enviado por um ex — e, com tintas vermelhas, começo a pintar até que as palavras desapareçam sob a cor. O vermelho não é apenas pigmento: é sangue simbólico, memória inscrita, dor que se transforma em gesto.
O trabalho acontece entre a escrita e a pintura. Uso o corpo inteiro — o braço, o peso, o movimento bruto de carimbar e esfregar — até que o texto se desfaça em manchas. A tinta escorre, mistura-se com ressentimento e tempo. O processo é repetitivo, quase hipnótico, e a saturação do vermelho vai cobrindo tudo, até o silêncio.
A pintura vira um ritual de limpeza: há banho, respingos, rastros de tinta que escorrem pelo chão do ateliê até o banheiro. O tempo também transformou o fazer — o que antes era dor agora é vontade de resignificar, não só para mim, mas de modo coletivo.
O que nasceu como violência retorna como prova e trabalho. A intimidade torna-se pública; a vulnerabilidade, resistência. O corpo expõe a ferida e a converte em ritual, recusando o silenciamento e abrindo um espaço de resistência poética e política.